segunda-feira, 14 de setembro de 2015

Metade da laranja




Encontrar a metade da laranja, a tampa da panela, o par perfeito, não é tarefa fácil, aliás o que torna um par perfeito? Gostar das mesmas coisas? Ser da mesma religião? Pintar a vida do mesmo tom? 

Posso garantir, que estou casada há quase 20 anos e ainda não encontrei! Porque da laranja gosto só do “chapeuzinho”, e tampas que se encaixam perfeitamente em panelas, podem gerar pressão e uma hora estourar! 

Confesso que tive muita preguiça de pensar em encontrar um par perfeito! Imaginem que chatice tudo estar na mais perfeita harmonia, sem nunca ter um ponto de divergência? O que eu poderia aprender com meu companheiro se tivéssemos o mesmo ponto de vista sobre as coisas? Nunca nos provocaríamos a enxergar tons diferentes da vida, a conhecer novos sabores, a descobrir novos cheiros e encontrar outras possibilidades para viver. 

A ciência não é algo que me atrai muito, mas aprendi com ele, que “na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”, tão profundo, que eu daria crédito a algum poeta, mas não é poesia. Segundo o cientista Antoine Laurent Lavoisier é o princípio de conservação das massas, pura ciência!  
Ele não é muito ligado em arte e literatura, mas o apresentei a Drummond, Manoel de Barros, Van Gogh, Malfatti, Brecheret e, recentemente, visitamos a Pinacoteca de São Paulo, para conhecer o acervo permanente e as obras de Ron Muek. Eu falo sobre poesia e ele fala sobre fórmulas químicas, e assim a gente constrói nossa relação de energia, por que seria muito chato se a vida dele fosse composta apenas por átomos e moléculas, que não pudesse transitar pelas palavras de Drummond. 

Reconheço, que as exatas precisavam fazer parte da minha vida de alguma forma, e se não foi por escolha acadêmica, então que viesse pela química, talvez a orgânica, a qual provocava frio no estômago, brilho nos olhos e arrepios pelo corpo, todas as vezes em que estávamos juntos. 

Somos muito diferentes, mas depois de tanto tempo de convivência, tem horas que não sei mais quais são as partículas de cada um, percebo em mim, atitudes que não eram minhas, e percebo nele um pouco das minhas manias. Se o nosso relacionamento fosse uma propriedade física da matéria eu a classificaria como líquida, ou talvez gasosa, jamais como sólida, pois esta é enrijecida, pouco flexível e tem um formato definido. 

Casamento não é uma instituição fácil de lidar, posso dizer que é mesmo complicada, mas fazer planos juntos é tão mais legal a fazer planos sozinha. Por isso, todas as vezes que pensei que não daria certo, por causa das diferenças, eu percebia que era aí que aconteciam as melhores reações químicas, nossas substâncias se misturavam e resultavam na fórmula do amor. 

Quase duas décadas juntos, e todos os nossos experimentos nos ofereceram as mais diversas transformações. Não sei quanto tempo ainda vai durar, mas enquanto estivermos olhando para o futuro e vendo nossa casa cheia de netos, seguiremos acreditando, que será pra sempre! 

Se hoje, eu fosse uma mulher solteira, jamais sairia por aí, em busca do par perfeito, continuaria com preguiça! Tentaria encontrar elementos de afinidades químicas, para que esta reação pudesse transformar-se em ideias, discussões, conversas, planos, filhos, sonhos, harmonia (porque não?), carinho, partilhamento, respeito, comprometimento, liberdade, cumplicidade e muito amor!

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